segunda-feira, 29 de outubro de 2012

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"Volta pra casa,
Me traz na bagagem,
Tua viagem sou eu.

Novas paisagens,
Destino, passagem,
Tua tatuagem sou eu."

-Cher...
-Quando eu tiver um filho com o homem que eu virei a casar, contarei a ele sobre você. 
De como você sorriu pequeno quando me viu chegar no aeroporto. Não senti mais fome nem sede e nem sei quais foram as palavras que deram origem aquele riso mas eu queria repeti-las pra sempre. Se eu tirasse uma foto daquele sorriso e distribuísse pela cidade ninguém mais morreria de fome, nem de sede, nem de amor. Pois é só por isso que se morre. 
Vou lembrar, enquanto faço amor com o meu esposo, de quando você disse que que tinha fome de mim. Vou contar aos meus alunos, enquanto eles estudam um autor contemporâneo qualquer, que eu já amei um estranho. Mas agora eu vou voltar pra minha cidade, pro meu cachorro que eu perdi quando tinha oito anos. Ele ainda está na rua latindo por mim. Vou voltar pro meu natal, pro meu ano novo de roupas brancas enquanto você passa o seu de camisa preta. 
Sempre quis sair da minha cidade mas agora descobri que sou ela, que sou todas as avenidas e todos os viadutos propícios ao suicídio; que sou aquela senhora depresiva da rua de trás e aquela criança que nasceu hoje.  Vou voltar para a minha cidade, pro meu estúdio de tatuagem  que eu tenho sessão marcada. Estou com tantas saudades, vou tatuar uma palavra em arábe: دانيلو
e mais uma vez: - Adeus.