segunda-feira, 1 de abril de 2013

O invisível nos salta aos olhos


Evening on Karl Johan - E. Munch
 -Nossa, há quanto tempo, rapaz!
 -Desculpa, quem é mesmo você?
-(Meu nome é Vicente. Vicente Guedes, o mais novo de três irmãos, venho do interior e era solteiro. Eu tenho quarenta anos, bem vividos, e uma fala arrastada. Tenho os olhos esbugalhados e assustadoramente grandes, vale dizer que quando fico nervoso meus olhos "crescem" ainda mais. Eu era casado, porém atualmente estou solteiro e morando na casa da minha mãe, o que vem se tornando um problema, pois me tornei  muito afetado depois do divórcio e não pude chorar, não posso chorar no trabalho, não posso chorar no táxi, não posso chorar na padaria, não frequento bares para chorar com o garçom, o tempo que poderia ter para chorar em casa é arrebatado pela mãe. Tenho um profundo ressentimento por minha ex-esposa, não que ela tivesse me deixado mais depressivo, não, eu sei que sempre fui um sujeito triste, mas ela tinha sido, por longos dez anos, o meu elixir. Agora que me se encontrava sozinho dela, me encontrava novamente acompanhado por um profundo inferno todos os dias da semana.
Possuo, agora, um bem maior, que é o de não possuir bem algum. 
Como já se percebeu, tenho alguns traumas, mas não conto a ninguém, suporto essa vida nula com uma indiferença de mestre, porém a constituição do meu espirito me condena a ânsias que por causa da minha mãe suporto-as todas. 
Abro as janelas e... ah como gostaria de ser rocha ou mato, nada saber, nada pensar, nada sentir. De morrer, de esfrangar-me e ninguém saber, de queimar e não deixar ninguém ver.
Poderia dar outros vários lamentos de mim, poderia fazer um poema mais bonito do que outro e colocar aqui, mas não acho necessário.  
Eu queria na verdade falar sobre a vontade que tenho de chorar a noite, mas também acho que você não deve saber. 
Dizem que esses traumas me tornam uma pessoas mais interessante, que aguça a minha facilidade de escrita, pois acho que eu deveria continuar ignorante e percebendo as pessoas como elas são superficialmente, não me aprofundar em nada. Sabe aqueles tipos que não se preocupam com nada, que não sentem dor? Pois é, gostaria de ser assim, burro e alegre. Ignorante, porém feliz. Melhor frase do texto.
E que discurso comprido, eu mesmo não sou tão grande assim.                                                                     Na verdade, sou o menor discurso do mundo:
Vicente.)
-Vicente, que estudou com você no terceiro ano... ensino médio...lembra?