Ela me olhava com olhos de Campari. Vermelho e distraído. Nunca dei muita
importância aos olhos, sempre achei que poderíamos ainda assim fingir
sentimentos. Mas, quando vi aquele olhar de canto, todo desconfiando, mais
do que de um escorpião, mudei meus conceitos. Eu nunca tinha visto tanto
mistério e cumplicidade, nem mesmo quando via o reflexo da minha própria
pessoa no espelho. Ela era feita de música e poesia, daquelas bem quentes e
eróticas, mas só sabia disso, quem mergulhava naquele fechado olho de rio
preto. Não, preto não! Vermelho. Vermelho Campari.
[Tributo à minha antiga amiga, Velha da Lua]