- Dezoito anos sendo comemorados em um circo barato - resmunguei.
- E você acha pouco? - Meu amigo riu dando leves tapas nas minhas costas enquanto entravamos.
18 anos - pensei enquanto o espetáculo se passava - quanto tempo desde esse acidente, quanto tempo faz seis, sete anos? - Pausei os pensamentos para ouvir uma voz grave que anunciava a entrada do palhaço.
Entrou com todas as suas cores envolto ainda por uma sobra, fazia gestos enquanto um cachorrinho obedecia fielmente a cada significado do seu movimento.
Ele se moveu bruscamente desenterrando seu rosto da luz. Agonizei.
-Ana? - Rick me tocou as costas levemente - Você não disse nem um 'piu' durante o caminho inteiro o que houve? Não gostou? Desculpa é que...
-Não é nada disso Rick - Interrompi. - Eu amei foi um ótimo presente - Ironizei.
Ele riu - Ana- Tocou-me a face - Boa noite.
Na verdade péssima noite, não dormi, a imagem do palhaço me despertou outras lembranças enterradas a mais de 5 cinco anos. Mas não eram lembranças traumáticas, elas surgiram de forma diferente não de um maníaco mas de um homem ainda jovem e enérgico. Como eu lembrei dele depois de tantos anos?
Apertei os olhos com os indicadores comecei a ver estrelas no lençol da cama. Adormeci.
Já era tarde embora ainda fizesse escuro, juntei o resto das minhas economias. Fui ver o palhaço.
As mesmas agonias até o final, eu queria saber o que era aquele aperto no estômago quando ele entrava, não era fome nem sede. Fui no camarim, fui vê-lo, disfarcei, disse que precisava falar com um amigo que estava por la. Entrei e la estava ele com o rosto enfiado dentro das toalhas, com a camiseta molhada de suor. Belos braços.
-Ola- Ele não respondeu, me observou entrar e me aproximar lentamente. Sorri internamente.
Conversamos sobre filmes, cachorros, musica, livros, já era quase madrugada e já estávamos na mesa de um bar bebendo juntos a algumas horas. - Sera que ele lembra de mim? - pensei. - Eu só tinha onze anos - porque estava pensando aquilo?
De repente descobri que a fome e a sede não eram fome e sede de pão mas de pele. Aquela pele.
As nossas se esbarraram sobre a mesa, estavam frias.
-Ei - Ele sussurrou sem pronunciar meu nome - Podemos ir ate a minha casa - continuou - Já esta tarde e...
E fomos.
Senti novamente o seu peso. era o seu eu sabia que era seu. Agora com mais intensidade sobre mim. Seus olhos sorriram. Suas mãos exploravam os meus lençóis de pele e sua saliva fazia cachoeiras dentro do meu corpo. Foi abrindo o seu caminho, abrindo e abrindo. E agora eram seus os gemidos e agonias, gemidos com sabor de álcool e agonias com cheiro de cigarros que só acabaram depois do gozo.
-Clarisse? - me selou - Eu te juro, desta vez você não vai morrer no meu abraço.
Só que agora eu já sabia...Morrer não doí.
Cheio de dúvidas, misterioso. Envolvente! Parabéns.
ResponderExcluirme sinto feliz por ter gostado. obrigado.
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