sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sequelas Internas. (3)

Acabei por me esquecer da horas, sorri enquanto abria os olhos lentamente passando uma das mãos na cama procurando pelos seus vestígios e com a outra escondia o rosto do sol que entrava pela janela.
Não lhe senti. 
Saltei da cama. A minha frente la estava ele olhando de uma forma singela para o sol. Em silencio ele levou o cigarro até a boca, cruzou os braços e soltou o fumo.
A minha presença já se demorara de mais para receber comentários. Levantei e parti tão solene quanto chegara. 

Fechei os portões da sua casa, agora reparara como era mal cuidada. Instantes depois ouvi passos bem enérgicos. Aproveitei para dar "bom dia" mas me calará dado que não recebi nenhuma resposta. 
Ele deu alguns passos a frente, afagou o meu cabelo embaraçado, pediu para me ver novamente com a sua voz rouca de sempre. 
Jardim Veneza era o nome, eu já havia ido la algumas vezes, era pouco frequentado e fechado.  Calculei os movimentos e vi que já poderia sair. 
Ele deve ter percebido a minha disposição, pois deu um leve sorriso. 

Já passavam das 21:00 estava pronta. Pedi ao Rick que me deixasse no jardim, ele não entrou em mais detalhes nem me pediu explicações. 
Entrei por entre a grama e me surpreendi com ele estudando o tronco de uma arvore cheio de imperfeições, de costas pra mim. Ainda não tinha chegado mais perto e ele me pediu pra parar. Se virou e se aproximou de mim, tão próximo que consegui sentir seu hálito gélido e alcoólico. 

A grama estava coberta por montículos e pedras e uma leve camada de gotas d'água. 
Me deitou por entre a grama curta que incomodada um pouco a minha pele nua. Ajuntou as minhas roupas em um montículo ao meu lado e elas já estavam meio molhadas pelo suor da grama. 
Mas uma vez foi descontado em mim toda a sua força. Tentei gemer, ele puxou do bolso uma gravata velha e azul, amarrou a minha boca. Pra mim não passava de mais uma fantasia. Me senti novamente com 11 anos com a boca cuspindo mofo. E continuou com a sua estupidez em cima de mim, agora tão brutal que me rasgava as vezes. Me provou ondas de saliva tão grandes que me afogaram dentro dele. Senti a gravata descer de nível até alcançar o meu pescoço. Agora ela começou a apertar, apertar mais e mais e...

-Clarisse? - Eu vou te deixar agora, dentro de mim. 
E permaneceu assim mal e rindo da morte. 
Morrer as vezes dói. 

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