quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sequelas Internas.

Eu estava sentada na beira da lagoa, a agua era clara como um espelho. Eu olhava um peixe na agua. Me distrai com uma folha que se moveu com o vento e perdi o peixe de vista. 
Tirei o jeans coloque os pés n'água, estava fria. Não achei o peixe, retornei para a beira da lagoa e deitei de bruços na areia macia e úmida. Comecei a afagar a agua com suas madeixas imaginarias de um cabelo longo e macio, enquanto sentia a minha barriga afundando de uma forma lenta na areia fofa. 
Retomei o olhar firme na agua e por um segundo vi uma imagem na agua. Era um rosto. Homem bonito, não muito alto, aparentava ser jovem. A sua imagem estava tão perfeita que por instantes pensei ser um homem feito de agua. Fechei os olhos e apertei com os polegares. Imaginação? 

-Clarisse? - Ele se aproximou e segurou meu braço com força, enquanto uma vez ou outra desviava o olhar para as minhas pernas nuas, magras e sujas com areia preta. 
- Que Clarrise? - Resmunguei com uma tentativa inútil de me soltar. 
-Menina bonita feito você só pode se chamar Clarisse - Passou uma gravata azul ao redor da minha boca. Gosto de Mofo. 
Me arrastou caminho a cima. Eu me travava, ele me arrancava do chão. Eu chorava, ele encostava o rosto bem próximo ao meu e pedia silencio, um silencio com cheiro de álcool e cigarros. 

Eu só tinha 10 anos e a minha mãe me explicou sobre pessoas que matam as outras. Agora já com onze anos pensei: "Será que vai me matar?" Mas ela nunca havia me explicado sobre outros crimes, que matam também, mais matam a dignidade humana. 

Chegamos ao alto de um pequeno morro, ele me deitou no chão. Ali no alto daquele morro desnudo e desolado a terra era dura e coberta de negra geada e ar frio, tão frio que me fez tremer até os ossos. 
Deitou por cima de mim e se livrou de tudo que era pano. Me tranquei dentro de mim e pensei: "Devo me fingir de morta?" Joguei a perna pra cá, braço pra lá e mal respirava. Ele continuou com o seu movimento repetitivo e egoísta. Continuou abrindo caminho dentro de mim. E eu, não podia mais nada fazer, sem peso em mim era grande de mais. Gemi. Ele emporcalhou toda a minha morada antes de sair. 

-Clarisse? - Foi a ultima coisa que eu ouvi. 
De tanto me fingir de morta, eu morri. 

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